terça-feira, 16 de junho de 2009

Sins of the past, signs of a future..













Teardrop on the fire

Fearless on my breath
(Massive Attack, Teardrop)

Você já foi visitado pelo seu passado? Vocês se sentaram prá tomar umas? Foi um encontro amigável? Ou seu passado é "o espectro que assombra"?
Escolhas geram consequências... pensar em certo e errado é algo que vai nos remeter a morais religiosas e éticas de toda espécie. Muitas vezes os espectros que nos rondam, de tempos tão longínquos, são apenas tentativas de acertos equivocadas. Outras vezes, são coisas das quais nos envergonhamos mesmo. Outras, ainda, são aquilo que nos torna um pouco psicopatas... simplesmente, "não é com a gente".

Não quero ninguém lendo isso e tendo pesadelos acordado, revisitado por fantasmas pseudo-exorcizados há tempos - por favor... fantasmas exorcizados não voltam a assombrar...
Só queria compartilhar que fui visitado por um dos meus inúmeros espectros... sempre que isso acontece, eu tenho uma descarga de adrenalina, que me gela por dentro, e uma profunda melancolia byroniana que pode perdurar por um bom tempo.

Ainda não sei como lidar com isso. Se os pecados do passado ficam rondando e assombrando, é uma questão de tempo para eles se tornarem, de fato, sinais de um futuro cheio de medo. E viver com medo não é uma opção. Afinal, até suas lágrimas congelarem, você vai se ferir com elas...


terça-feira, 9 de junho de 2009

Night mist


Fui surpreendido, recentemente, por um fenômeno de bruma densa na cidade onde agora resido. Minha cidade natal, bem como as cidades por onde passei, nunca tinham me proporcionado espetáculo tão diferente.
Lembrei-me da minha leitura de "As brumas de Avalon", e que todos nós assumimos papéis semelhantes aos dos personagens da trama. As mulheres de Avalon me fascinaram desde a primeira leitura...

Igraine atravessa não só as terras de Avalon e o mar que a separa em direção à Bretanha dos cristãos. Atravessa também toda a sua fé em direção a uma nova realidade religiosa e moral. Num momento, Igraine simboliza nossa grande transição ao mundo adulto, bem como algumas transições que fazemos ao abraçar uma religião (ou ao abraçar uma nova religião). Mas é interessante notar que ela o faz em função de sua antiga religião (ou, na comparação aqui colocada, em função de seu modus vivendi anterior). Isso entra em choque quando Viviane e Merlin a pedem que mude, novamente, seu destino, contrariando os preceitos morais que havia assumido, para novamente atender seu modus vivendi anterior à mudança. Igraine poderia simbolizar nossa pseudo-aceitação e resistência a mudanças, uma resignação corajosa e contestadora (por mais antitético que essa expressão possa parecer).

Viviane é a constância, a resignação. Ela simboliza vários de nós quando nos satisfazemos num projeto de vida qualquer, após um sacrifício ora prazeiroso, ora doloroso. A grande sacerdotiza de Avalon é a mãe "de coração", a pessoa vivida que nos conhece e que já trilhou o caminho por onde passamos - ou, as vezes, simboliza a nós quando falamos com alguém que anda trilhando passos que já trilhamos.
É bom se sentir "Viviane", tanto quanto é sofrido. Não se pode viver a vida dos outros. Muitas vezes, sabemos que alguém vai cair onde caimos, mas que vai sorrir onde sorrimos.

Morgause é a ambição velada de todo ser humano. Ela simboliza, paralelamente, a certeza de sermos coadjuvantes em alguns momentos da vida e, em consequência, nossa negação a sermos coadjuvantes. Em paralelo, Morgause é nossa vontade constante de sempre melhorarmos. Em alguns, isso é uma obsessão. Controlado, é uma das melhores receitas de vida que poderemos ter.

Lembraria, em tempo, saindo da linhagem principal da trama, Raven, a sacerdotiza muda de Avalon. Raven é o que reprimimos em nós em prol de um ideal maior. E seu grito, quando Avalon "cai", é nossa revolta pelo que vemos de podre e não conseguimos mudar com nosso sacrifício. Raven é nossa consciência, nossos esforços para o bem comum, mas é nossa primeira blasfêmia também. Raven é a dúvida de que o que fazemos fará diferença no mundo que nos rodeia.

Por fim, mas não menos importante: Morgana. Morgana é cada um de nós, e as esperanças de um grande futuro. Nas versões mais difundidas da saga de Arthur, Morgana se assemelha muito ao papel de Morgause, com a diferença de que ela se pretende a protagonizar a vida e faz por onde. Mas, de fato, Morgana simboliza "aquele que vence".


É um clima agradável entre as brumas. O rosto se umidifica, não se vê nada a distância. O brilho da Lua está sobre você, e sob a benção da mãe da noite você se sente livre para olhar para dentro de si. Quando olhamos no espelho prateado da Lua, é possível nos ver. Quando a bruma nos envolve, só temos como nos sentir, como se nosso espelho se esvaecesse ao nosso redor. É uma sensação nova, que recomendo a todos.

Boas lembranças a bruma trouxe. Boas reflexões...